"Quando secam os oásis utópicos,
estende-se um deserto
de banalidade e perplexidade."
Jürgen Habermas
estende-se um deserto
de banalidade e perplexidade."
Jürgen Habermas
A Pílula de hoje terá de ser em dose cavalar, em função das estripolias da Senhora Erenice Guerra, ex-Ministra Chefe da Casa Civil, filiada ao meu Partido, que, mais uma vez, assim como a turma do mensalão, aloprados e outros atrapalhões, tiram qualquer militante de esquerda do sério.
Uma pessoa minimamente comprometida com a ética sabe que o primeiro dever moral tem de ser o da autocrítica. E isso é que o PT deve fazer urgentemente, antes que acabe de jogar inteiramente no lixo um capital político construído a duras penas, ao longo de trinta anos, pela vontade e utopia de incontáveis trabalhadores e militantes Brasil afora, que ainda vêem o PT como uma possibilidade de mudanças reais para o País. Mas é preciso resgatá-lo já!
A minha candidatura a Deputado Distrital só foi confirmada no dia 5 de julho, último dia de inscrição de candidatos, após cerrado boicote e sabotagem de uma parcela dirigente do Partido, certamente amedrontada com o ingresso de um militante histórico, que labuta 30 anos em prol da elevação cultural de nosso povo, que não tem "rabo preso", muito menos "papas na língua". E confesso: uma das coisas que me animou a ir para a disputa foi um artigo do Frei Beto, “Carta a um Petista”, na qual me senti o próprio personagem a quem o frade dominicano e escritor se dirige.
Nesse momento de mais uma trapalhada, de quem nega o passado e se deslumbra com a institucionalidade burguesa, metendo os pés pelas mãos, como é o caso da Sr.ª Erenice, segue abaixo o artigo/carta de Frei Betto, que serve como um alento para os que acreditam que a política pode fazer a diferença.
CARTA A UM PETISTA
Frei Betto
Meu caro: recebi sua carta na qual descreve a confusão política que o atormenta. Pressinto quão sofrido é ver o seu partido refém de velhas raposas da política brasileira, com o risco de ser definitivamente tragado, como Jonas, pela baleia.
Pergunto-se se o PT voltará, algum dia, a ser fiel a seus princípios e documentos de origem. Hoje, ele luta por governabilidade ou por empregabilidade de seus correligionários? É movido pela ânsia de construir um novo Brasil ou pelo projeto de poder?
Nunca fui filiado a partido, como você sabe e muitos ignoram. É verdade que ajudei a construir o PT, mobilizei Brasil afora as Comunidades Eclesiais de Base e a Pastoral Operária.
Eleito presidente, Lula me convocou para o Fome Zero. Aceitei. Mas o governo que criou o Fome Zero decidiu por sua morte prematura e deu lugar ao Bolsa Família.
Trocou-se um programa emancipatório por outro compensatório. Peguei o meu boné. Tudo isso narrei em dois livros, “A Mosca Azul” e “Calendário do Poder”.
Amigo, não o aconselho a deixar o PT. Não se muda um país vivendo fora dele. Há no PT muitos militantes íntegros, fiéis a seus princípios fundadores e dispostos a lutar por uma nova hegemonia na direção do partido.
Ainda que você não engula essas alianças “espúrias”, sugiro que prossiga no partido e vote em seus candidatos ou nos candidatos da coligação. Mas exija deles compromissos públicos. Lute, expresse sua opinião, revele sua indignação.
Ajude o PT a recuperar sua credibilidade ética e a voltar a ser expressão política dos movimentos sociais que congregam os mais pobres e as bandeiras que exigem reformas estruturais no Brasil.
Fonte: Jornal "O Dia" , Rio de Janeiro, 12/06/2010. Disponível em http://odia.terra.com.br/portal/conexaoleitor/html/2010/6/frei_betto_carta_a_um_petista_88019.html
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